China deve aumentar importações em 8,8 bilhões de litros/ano de 2018 a 2028, diz especialista

Publicado em: 14/08/2019

O economista Dou Ming, com 20 anos de experiência na área de laticínios, ofereceu aos participantes do Interleite Brasil 2019, que ocorreu nos dias 07 e 08 de agosto em Uberlândia/MG e reuniu cerca de 1000 pessoas, uma visão inédita sobre a estrutura de produção de leite na China, suas mudanças e desafios existentes. Para ele, a China, maior importador mundial, deverá continuar tendo papel relevante no mercado internacional. Segundo Doug, até 2028 o país deverá aumentar a produção interna em 11,2 bilhões de litros e as importações em 8,8 bilhões, um aumento de 60% em relação ao volume atual.

Produção de leite chinesa

A China produz cerca de 30,75 bilhões de kg de leite/ano (sexto produtor mundial de leite de vaca, atrás dos EUA, Índia, Brasil, Alemanha e Rússia), sendo 80% industrializados e, destes, 90% transformados em produtos como leite e iogurtes, já que o consumo de queijos é baixo.

Entre 2008 e 2018, a produção chinesa mostrou um rápido crescimento e, neste período, houve redução no número de fazendas, mas forte aumento na produção por propriedade e forte incremento na produção por vaca (de 4.500 kg/vaca para 7.400 kg de 2008 a 2018).

Doug comentou que no país, as fazendas com mais de 1000 vacas estão crescendo e essa ampliação foi motivada por fortes investimentos em grandes propriedades como a Modern Dairy, que tem 134.000 vacas em 26 fazendas.

Ele mostrou que na China, os custos de produção são muitos altos. Para exemplificar, comparado com a média global e com a Nova Zelândia, é 1,4 vezes maior e com relação a União Europeia, 1,3 vezes. Ainda sobre a produção do país, a mesma sofre um desequilíbrio sazonal ao longo do ano, chegando no pico produtivo nos meses de abril e maio.

Qualidade do leite chinês

Majoritariamente, a produção de bovinos leiteiros no país ocorre por meio do confinamento, porém com grande diferença entre o leite produzido pelos grandes grupos produtores e a média geral. Ao longo dos anos, a qualidade do leite cru na China melhorou nas fazendas profissionais: enquanto a gordura e as proteínas aumentaram, a CCS (Contagem de Células Somáticas) e a CBT (Contagem Bacteriana Total) diminuíram.

Quantidades importadas de lácteos pela China e perspectivas da indústria

Em 2018, a quantia de leite em pó importada pela China foi de 801,4 mil toneladas, o que corresponde a 16% do mercado global. De fórmulas infantis, foram 324,5 mil toneladas (30% do mercado global), seguida de soro de leite, com 557,2 mil toneladas (29% do mercado), queijos, com 108,3 mil toneladas (4% do mercado) e leite UHT, com 673,3 mil toneladas (27%).

Por dia, são mais de 40 milhões de kg em equivalente-leite importados. Somente as duas maiores empresas de laticínios chinesas – Mengniu e Yili – compram, juntas, cerca de 25 milhões de kg/dia.

Ainda de acordo com ele, o problema é que o país não tem competitividade internacional. “Com a liberação do comércio com alguns países como Nova Zelândia e Austrália, a quantidade de produtos lácteos importada aumentou, ainda mais porque o custo dos produtos lácteos internacionais é menor que o da China. A qualidade e a reputação dos produtos lácteos internacionais também são maiores que os dos chineses. Então, em face dessa melhor qualidade, preço mais barato e produtos mais diversificados, os lácteos da China perdem em competitividade”, comentou ele.

Ele acrescentou que falta uma relação mais forte entre as fazendas e os laticínios. “Parcerias entre os dois elos são difíceis de se estabelecer. Quando o leite está escasso no mercado, as fazendas cobram preços mais elevados, porém, quando há um excedente de leite cru, o laticínio regula os valores e diminui o mesmo. Tanto o campo quanto a indústria querem maximizar seus próprios interesses e ambas não possuem um mecanismo de cooperação benéfico”, finalizou.

Fonte: MilkPoint